ADOROWEB - A vila dos meninos assustados: parte 2



Enganam-se os que pensam que os prepotentes e arrogantes são aqueles que possuem os olhos voltados para si o tempo todo, pelo contrário, a arrogância vem precisamente do receio de olhar dentro de si e acabar por descobrir um ser vazio de qualidades, indigno de afeto e despreparado ante a um mundo assustador, ou seja, isto tudo vem da baixa autoestima. Usamos as máscaras do autoelogio e da vitimização, então, para escaparmos a este confronto tão atemorizante.

Não digo que estas pessoas não possuam talentos, de fato, acredito que todas as pessoas possuem valor, no entanto, para descobrir quem somos e o que temos para oferecer ao mundo, é necessário antes um grande exame interno. Por isso, não se enganem, essa fuga pode parecer o caminho mais leve, mas revela-se como o maior dos enganos. Pois ao mesmo tempo que lhe poupa o sofrimento momentâneo, te encerra em uma armadilha de covardia e confusão eternas, na qual, a maioria das pessoas passa a vida toda presa.

Assim, espero que você possa se libertar desse ciclo destrutivo. Que tenha a coragem de olhar para si, e encontrar sim, defeitos, incapacidades e a maldade que todos nós carregamos, mas que no fim, apenas deveria assustar aqueles que possuem a pretensão de serem perfeitos. Não somos. Mas se estiverem dispostos a fazer este mergulho, preparem-se, já lhes aviso, porque, descobrirão coisas tão maravilhosas em vocês, joias tão ricas, que pode ser até que não acreditem.

Deixo a escolha pra você.

Finalmente o menino conseguira chegar até o topo da criatura. Com uma flecha na mão, apertou-a entre os dedos, pronto, para encarar o monstro em sua face, onde ninguém jamais ousara ir! No entanto, o menino parou, os olhos, já grandes, paralisaram. Sua pele tornou-se branca como papel.

A multidão que esperava ansiosa, então, viu descer seu salvador de cabeça baixa, atemorizado. Temeram. Até que, o sentimento de ímpeta coragem substituiu-se nele pelo o da covardia maliciosa. Os olhos acenderam-se!

- Construiremos um muro! – exclamou, como que renovado – um muro tão grande capaz de barrar a criatura, mas não somente ela, como qualquer outra ameaça que venha a cair sobre nossa segura vila!

E assim foi; durante sete dias, nada mais foi feito do que amontoar pedra sobre pedra ao redor da vila. O lânguido menino, porém, jamais contou o que vira a ninguém. Sentado em sua pequena e escura casa, no entanto, não havia um segundo em que não pensasse nisso. No momento em que chegara frente a frente com a criatura; e para sua surpresa, não vira o monstro que esperava. Ao invés dos olhos de fogo e das presas serrantes, ele viu um espelho. Mas não era um espelho comum. Dentro dele, não se podia ver sua imagem, mas, todas assuas falhas, pensamentos maldosos e intentos de seu coração.

Finalmente a obra foi terminada, e contentes, os meninos comemoraram ao ver a enorme criatura, sempre imóvel, ficar do lado de fora da vila. No entanto, algo inesperado aconteceu, perceberam que o grande muro não apenas barrara o monstro atemorizante, como também a luz do sol.


E assim, passaram anos e anos naquele lugar, no qual nunca mais houve dia, apenas noite, para sempre, na pequena e segura vila. 




 



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2 Comentários

  1. Achei muito boa a história, parabéns! Triste fim pros meninos da vila kkkkk

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  2. Amei a história. Qual a próxima crítica do Adoro Web?

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